sábado, 29 de outubro de 2011

Histórias de Mistério


Histórias de Mistério, Lygia Fagundes Telles

A obra é encantadora, pois engloba seis histórias de mistério da autora Lygia Fagundes Telles. Desperta o fascínio através do trabalho que há na maneira como os acontecimentos são escritos, a escolha do tema, a seqüência dos fatos, as palavras e idéias que fazem com que se mergulhe no desconhecido.

As histórias de Lygia Fagundes Telles são um deleite na arte de suscitar no leitor uma sensação de deslumbramento e medo, ela usa a arte com a finalidade de provocar um “arrepio” no interior do leitor e, logo após, vem a sensação de compreendermos melhor um aspecto da vida real que foi abordado no tema daquela história. É um “mexer e remexer” com o íntimo de quem lê.

Os títulos das histórias que se encontram neste livro não possuem nada de assustador: “A caçada”, “As formigas”, “Natal na barca”, “O jardim selvagem”, “Lua crescente em Amsterdã”, “Onde estiveste esta noite”.

“Natal na barca” deixou-me com o coração apertado, senti-me sufocada quando a narrador-personagem diz que a criança no colo da mãe que a acompanha na barca está morta..... e no final Lygia nos faz saber que é apenas fruto da imaginação da narrador-personagem. Lygia usa maravilhosamente da arte para nos fazer acreditar nesta morte, ela combina as palavras e os acontecimentos, que acabam nos persuadindo sobre a fatalidade: a mulher que tinha sido abandonada pelo marido; que perdera um filho que gostava de brincar de mágica e resolveu voar, falecendo com a queda; o motivo de estar na barca na noite de Natal: doença do filho que agora tinha nos braços. Com todos estes fatos, Lygia escreve a seguir: “levantei a ponta do xale que cobria a cabeça da criança (...) O menino estava morto. Entrelacei as mãos para dominar o tremor que me sacudiu. Estava morto. A mãe continuava a niná-lo, apertando-o contra o peito. Mas ele estava morto". (p.41) A narradora-personagem tenta fugir desta situação, com a chegada ao destino da barca..... é um trecho curto até o final, mas a sensação de ausência de respiração na qual o leitor é acometido, parece tratar-se de um romance. No final, a criança abre os olhos, e o leitor volta a respirar..... Após a leitura total da história consegue-se entender que nas entrelinhas a criança estava viva mesmo (Natal, a questão da fé e Deus, olhos da mãe extraordinariamente brilhantes). A narradora-personagem tornou real os seus sentimentos interiores.

Organizado por Rosa Amanda Strausz, "Histórias de Mistério" é a fusão de temas nada aterrorizantes com o mergulho no desconhecido. Só a literatura pode fazer isso de maneira tão fascinante, um convite a “bagunçar” e reorganizar o repertório interior relacionados a assuntos do cotidiano do leitor. Por - Elissandra Paganini Fuzaro

Telles, Lygia Fagundes. Histórias de Mistério. Rio de Janeiro : Rocco, 2004.

(Já li e adorei, espero que curtam!) by Profª Suely Firmani

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